
Branca não chorou quando nasceu e por isso quase nem perceberam a sua existência. Já Preta anunciou sua chegada como um touro. Nasceram, assim, gêmeas, mas uma preta e a outra branca.
Logo que começamos a conversar, Preta, do alto de seus 40 anos, assumiu as rédeas e contou suas peripécias mágicas- uma mistura de dom do invisível e bruxaria caseira. Já Branca sorria timidamente e admirava as aventuras da irmã.
Ainda jovem e depois de 2 filhos, Branca havia feito ligadura das trompas, mas Preta profetizava que ela ainda engravidaria de uma menina e, assim como ela, teria 2 meninos e 1 menina. Preta estava certa. Branca teve ainda uma menina que “escapou” da ligadura.
Quando perguntei sobre as afinidades e conexões entre as irmãs, Preta irrompeu:
- Se eu ficar 2 dias sem vir aqui, a Branca me liga já preocupada e exigindo que eu venha visitá-la.
Dizia isso com um orgulho de quem se sente amada e necessária, discorrendo sobre a dependência da irmã Branca em relação a ela em comparação a seu livre desapego.
Assisti àquele amor e brilho nos olhos de Preta e me questionava: Quem depende de quem?
Sutil, como Branca, fui revelando o quanto a fortaleça sobrevive da serenidade, em equivalente teor de dependência.
Aos poucos, pudemos todos perceber que Preta aguardava ansiosa a ligação da irmã a cada 2 dias.
A Caixeira
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