domingo, 12 de julho de 2009

Dona Oscalina


Pensei, “gostaria de me encontrar com uma mulher agora.” E como o universo conspira sempre, lá no alto da rua, me acena um cabelo branco curto e uma postura de contemplação singular. Ela parada, em pé, no meio da rua a me olhar extática e já permeada.

Dona Oscalina é leve como o fim de tarde. Sabe que todo é dia de aprender e que a Terra é nossa primeira mãe. Diz que acha engraçado porque se pega muitas vezes falando sozinha, igual sua mãe. Na época pensava que ela tava era caducando. Mas num era, não. Era só pensar alto, dando asas aos pensamentos que martelam a cada segundo só, em meio aos afazeres domésticos.

Diz que não sabe dançar.

-Mas como, Dona Oscalina, se tudo dança? - Ela ri sem jeito. E eu continuo.

- O negócio é desbloquear o corpo dos julgamentos. A senhora já viu alguma criança dizendo "eu não sei dançar", "eu não sei desenhar"? Voltemos os olhos para elas, sábias peregrinas desta terra. A gente vai crescendo e parece que desaprendendo, desaprendendo que já sabemos de tudo, basta despertar em nós.

"Quem dança seus males espanta"

Ela é neta da primeira dona dessas terras serranopolinas - se é que a terra pode ter algum dono - Dona Maria Brígida da Conceição, que a vendeu para seu genro por 400 kg de arroz, uma caçarola de ferro, um porco capado gordo - que rendeu mais de três latas de banha e uma coroa de ouro para os dentes de Idalina, sua filha.

Linda flor do cerrado, Dona Oscalina, mesmo "ofendida" pelos borrachudos, me permitiu assistir com ela o milagre da dança do Sol se escondendo no horizonte.

Curandeira


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