terça-feira, 7 de julho de 2009

Aos mais antigos em Caiapônia

Eles dizem que nossos olhos forasteiros são fortes, revelam profundezas nativas de todas as terras vermelhas, amarelas, irmãs da nossa. Já caminho à vontade, mesmo estrangeira, em meio aos olhos curiosos e permeáveis dessa gente Caiaponiense.

Aqui, também um Cristo de braços abertos nos recebe, após contemplar um rinoceronte de pedra no horizonte da estrada. E me inebrio de pontinhos brancos, projeto de nuvens em plantação.

Seu Almiro, Dona Maria, obrigada pelo brilho nos olhos. Obrigada pela manhã calma. Aprendi que envelhecer tem muito a ver com a paz da escuta. E quando o silêncio dá lugar para a fala, o despojamento de poder falar o que quiser sem mais nenhum compromisso social. Nos que encontrei ainda havia muita doçura do encanto com a vida: "Perdi meu marido e minha filha, mas ainda ando doce, graças a Deus."
"Tá tude bem?"
"Graças a Deus"
"O dia tá bonito hoje!"
"Graças a Deus."
"Deus"
"Eus"

Meus eus cândidos, um eu de ombros arqueados e uma postura receptiva, terna e frágil. Esses cabelos brancos em diálogo com o dourado das cordas que amo e se transformam em cabelo de uma mulher jovem que experimenta o tempo da velhice. "É doce", percebo. "'E melancólico e doce", consigo perceber. Conviver com as perdas que meu ego sofre, mas saber no fundo que o caminho é caminhar sempre em frente. Sempre esperando curiosa um novo alvorecer.
"Como será que vai nascer o sol hoje? Vermelho? Amarelo? Azul?"

Todas as cores no prisma de meus olhos forasteiros nesta manhã. Manhã que o caminhar sereno me trouxe à Caiapônia. Aos caiapônienses. Esse Goiás que exala poesia. Brota água doce desse cerrado. É vida travestida de seca. É cantiga do meu pensar. Explorar.

A Curandeira

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