segunda-feira, 20 de julho de 2009

M'Inquiriu!

Foto: Andrés Rodriguez

Ele chegou quebrando a magia que tentava criar com alguns cidadãos aloandenses. Seu carro da polícia pousou impositivo ao meu lado, imprimindo uma tensão acuada aos demais. Ninguém mais me escutava, nem eu mesma. Mas tive de me esforçar em segurar o redemoinho de energia que crescia em meu centro e a raiva que senti daquele senhor fardado ajudou a não me dobrar frente aquela situação.
Inquiriu-me quem eu era, de onde vinha e eu teimosa em não acabar com a magia, me tornei a senhora louca, forasteira, que vinha do centro e não continha documentos. Ele estava prestes a me levar na viatura, dominado pela incompreensão e a arrogância, dominado pelo desejo de exercer seu poder perante todos. Pressenti: é uma ilusão pensar que os tempos de ditadura acabou, se uma cidade inteira ainda é refém do poder militar; do prefeito que ninguém diz que elegeu; das drogarias que industrializa e se apropria das ervas de todos e do conhecimento ancestral.
Mas eu não me curvei. Multifacetada de senhora sorridente e serena, que reverencia a natureza, me tornei inconforme e rebelde – bem similar ao coração dessa jovem de vinte e poucos anos que sempre se incomoda com a simples existência da polícia.
Se o peito dele estava inflado, meu espírito elevado. Minha postura era a de quem, forasteira, poderia transitar por onde queria, vestindo o que me convém, fazendo o que acho certo. O que fazia? Apenas colhia algumas bonitas folhas de sete copas frente à casa de uma senhora. Apenas enternecia o coração de Dona Alvina, comparando as folhas secas com as linhas de sua mão, lembrando a ela que tudo é feito à nossa imagem e semelhança. O que fazia, seu guarda? Poesia sem identidade, alegria sem mais valia, vestimenta de expressão sem pudor ou temor de rechaço. Não me curvo para a tua arrogância, seu guarda! Porque não é justo que o senhor espante os passarinhos ou murche a poesia que acabo de imprimir! E tenho que servir de exemplo pra essa gente que ainda se curva a não fazer o mesmo nunca mais. Porque o instante precisa de coragem e temos que enfrentar a jornada.
Dona Alvina emocionada veio no outro dia ter comigo, o acontecimento a tocou de tal forma que ela me comparou a Jesus – aquele que retornará em uma forma misteriosa, quem sabe mulher, artista, de cabelos estranhos e andar vagaroso. - Sim, Seu amor e rebeldia me visitou ontem.
Curandeira

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