terça-feira, 4 de agosto de 2009

Lucas Lucalino ou Cora Coralina pelos fundos - Goyas



Cheguei à casa de Cora Coralina pelos fundos.
Para minha surpresa, encontrei um jovem encantador de pipas sentado em frente à sua casa que ficava nos fundos da de Cora. Era Lucas Lucalino.
Conversamos longamente e aquele jovem me devolveu o frescor dos sonhos e do destino com sua força de vida que o fazia brilhar. Como alguém que ama sua cidade, me contou histórias longínquas do Rio Vermelho, de Anhanguera, dos Goyazes, de Cora.
Dizia que ela odiava que apanhassem frutas de seu quintal. Ficava furiosa com tal “invasão”. Para minha surpresa, o sobrado de que tanto fala nas poesias é uma casa grande, com quintal vasto, plantas de todos os gostos na beira do rio e acompanhada de um porão onde “guardavam” as escravas, ajudantes na fabricação dos doces que Cora fazia.
No passado, assisti a Cora através dos versos. Hoje, a assisti através da imaginação localizada nos quintais de sua casa.
A imagem do velho sobrado não transluzia a delicadeza de quem se coloca à margem. Antes pelo contrário, demonstravam a fortaleza privilegiada da beira do rio, do quintal largo e longo, do uso da força escrava. O mito Cora ofusca. Ofusca os diversos diamantes brutos ou lapidados que existem no Goyas, mesmo ali no quintal de sua casa. Cora fez de sua vida poesia e agradeço por tê-la conhecido primeiro pelos versos. Antes pelos versos, do que pelo mito distorcido ou ainda pela personalidade abusiva contada pelas histórias que ouvi.
O diamante ofuscado-Lucas é um jovem de 14 anos e quase não nasceu. Era para ter sido abortado porque os médicos diziam que ele possuía uma má formação e que nasceria surdo, cego e mudo. Mas nasceu firme e forte e desde os 11 inventa os seus próprios serviços para começar a juntar a sua independência. Já fez banquinhos, capinou jardim e recentemente vende pipas encantadas que garantem a sua imaginação. Sonha em entrar para o Exército, mas quebrou a mão aos 10 anos e teme não passar no exame.
Me contava sobre Cora com a maestria de quem ouviu cuidadosamente os mais antigos: detalhes e intimidades de quem se aproximou. Observador, conhece as esquinas do rio e faz versos por existir. É um prosiador e contador da paixão com que olha.
Em silêncio dizia ao querido, Lucas: Não há com o que se preocupar. Como você mesmo disse, o seu caminho está te esperando. Ouso em dizer que o brilho de um diamante te acompanha seja nos quintais de Cora seja na maestria de sua inventividade que alcança o nunca dantes navegado.

Caixeira.

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