sábado, 3 de outubro de 2009

Maria Planaltina




Envelheci meu anos quando pisei em Planaltina. Acho que gostaria de me parecer com essa dama antiga, que me chama amiga para passear por suas ruelas.
Apesar da face impressa no total estranhamento, Planaltina nos recebe de coração aberto. Sento-me nas escadas de sua igreja matriz e descarrego todas as folhas que catei na estrada, transformando-as em pó, para juntar ao pó de agora, desta terra que considero minha também.
Foi aqui que Goiás pariu Brasília. Os 150 anos de Planaltina também dizem muito de mim. Por aqui passaram bandeirantes, ouro, escravos. Será que Planaltina sonhou algum dia com Brasília?
Banho-me com tuas folhas secas, Planaltina. Recarrego minha bagagem delas. Encho a bolsa com tuas folhas para fazê-las bem vindas em outros lugares! Folhas que completam esta que criei, uma entidade curandeira, com árvores sem folhas desenhada na testa, seca, sedenta por se saber raíz, sedenta por se saber cerrado retorcido, sedenta por encontrar o remédio embaixo de tuas cascas. A falta no cenho é complemento em outro lugar, mas a falta não passa de um estado dentro do rio que flui e sempre chega novidades antigas e bem vindas.
Indagam-me de onde vim. Mal sabem eles que a terra vermelha que pisamos agora, em Planaltina, chamava-se Sítio Castanho, o famoso lugar de onde vieram essas Marias. É o forasteiro assentando o passo e estranhamente sentindo-se nativo. "Onde fica?"... Estranhamente posso sentir seu cheiro e o cheiro da chuva que ameaça vir fora de época, alimentando a terra seca, esverdeando o que era pardo. Parda que estou, já me esverdeio na companhia de Planaltina, pequena grande idosa menina em cima deste Goiás, furtada pelo Distrito Federal.

Planaltina, seu primeiro nome deveria ser Maria

Nenhum comentário:

Postar um comentário